Os 140 anos da imigração que não foi.

Selo 140 anos Imigraçao Italiana

1875. Ano de chegada de muitos de imigrantes ao Brasil. Ano que marcou o aumento da imigração italiana com a chegada de milhares de imigrantes saídos, sobretudo, das regiões do Norte da Itália: do Vêneto, da Lombardia, da Emília Romanha e do Piemonte. Muitos vinham do Sul da bota: da Campanha (Nápoles) e da Calábria, mas tantos outros eram oriundos de outras regiões. Belas iniciativas começam a ganhar espaço no Brasil, homenageando os imigrantes italianos que tanto contribuíram para a nova pátria.

Mas 1875 também foi o ano daquela que podemos chamar “grande imigração austríaca”. No mesmo ano, o Brasil passou a receber milhares de imigrantes austríacos vindos do Tirol, da Gorízia, do Friúl, da Boêmia. Alguns austríacos pioneiros já estavam por aqui anos antes, assim como imigrantes italianos e alemães.

Os quase 80.000 imigrantes austríacos que entraram no Brasil também contribuíram para a nova pátria, mas estão um tanto quanto “esquecidos” pelos descendentes. Com base nisso, propomos um “diálogo” sobre a imigração que não foi imigração italiana, haja vista que os imigrantes da região italiana do Tirol eram imigrantes austríacos de língua italiana e desde 1970 são chamados no Brasil “trentinos” por causa da influência cultural e política de Ongs e representações italianas sediadas em Trento, Itália.

– Austríacos? Mas os trentinos eram imigrantes austríacos?

Sem nenhuma dúvida. Imigrantes austríacos porque filhos, netos, bisnetos, trinetos, tetranetos de austríacos. Os imigrantes “trentinos” (Tiroleses de língua italiana) não eram imigrantes italianos – e não o eram por questões “partidárias”. Simplesmente não eram imigrantes italianos porque os trentinos eram imigrantes austríacos.

passaporto tirolese
Passaporte austríaco de imigrante da região de Trento, Tirol.

 

– Mas os trentinos queriam ser austríacos?

Em todos os estados brasileiros onde se instalaram, existem muitos relatos, registros e publicações que tratam do patriotismo austríaco dos imigrantes tiroleses. Há, inclusive, relatos de violência e disputas ocorridas entre tiroleses e italianos nas colônias do Brasil. Naturalmente, o bom convívio prevaleceu (com casamentos, inclusive), mas os imigrantes tiroleses jamais renegaram sua pátria austríaca, onde o idioma italiano era oficial – uma das dez línguas oficiais do Império Austro-Húngaro.

consul Rio dos Cedros
1905 – Poema escrito pelo imigrante tirolês, prof. Virgilio Campestrini, e lido por Ottilia Agostini (então com 6 anos) durante a visita do cônsul austríaco, Carlos Bertoni, a Rio dos Cedros, SC.

 

– Mas os trentinos sempre falaram o idioma italiano!

Assim como este post está escrito em português, mas não estamos em Portugal. O Tirol sempre foi uma região trilíngue (onde se fala o italiano, o ladino e o alemão) que pertenceu unida à Áustria de 1363 até 1918, ou seja, durante bons 555 anos. Somente após o final da Primeira Guerra Mundial, em 1918 (43 anos depois de 1875), a parte meridional do Tirol foi anexada pela Itália como conquista de guerra.

– Mas os trentinos desconheciam o idioma alemão!

Engana-se. Boa parte dos imigrantes tiroleses de língua italiana (principalmente os homens) era bilíngue ou tinha boas noções do idioma alemão. Até 1918, na região de Trento e Rovereto viviam cerca de 14.000 tiroleses de língua materna alemã, além de milhares de tiroleses de língua italiana (falantes do dialeto trentino) que conheciam o idioma alemão. No Tirol Italiano, a língua materna e utilizada no convívio familiar era o dialeto trentino (chamado também dialèt tirolés), mas os imigrantes conheciam o italiano gramatical, que era ensinado nas escolas e muitos falavam perfeitamente o alemão que, em alguns vales, era o idioma de uso doméstico. Além disso, muitas palavras do dialeto trentino são de origem alemã, assim como vários sobrenomes. A realidade bilíngue (ou trilíngue) dos tiroleses foi de extrema importância na colonização do Vale do Itajaí, em Santa Catarina, onde puderam auxiliar nas relações entre imigrantes alemães e italianos. Dr. Blumenau teceu vários elogios aos tiroleses e relatou, inclusive, as dificuldades de muitas famílias que chegaram ao Brasil em situações de extrema pobreza.

– Os imigrantes eram pobres coitados…

Em partes. Vale lembrar que, apesar da difícil condição, os imigrantes tiroleses eram alfabetizados, enquanto a grande maioria dos imigrantes italianos era analfabeta. Isso se deve à política escolar austríaca do século XVIII, quando a Imperatriz Maria Teresa implantou a escola obrigatória. No Tirol Italiano (região de Trento), o ensino era feito em língua italiana. A cidade de Trento possuia também um colégio alemão.

scuole
Livro escolar austríaco para a região do Tirol Italiano.

 

– Então eles passaram a fazer parte da Itália porque falavam o italiano.

Então por que o Cantão Ticino, na Suíça não faz parte da Itália se ali o idioma italiano é oficial? A população do Tirol (seja de língua alemã como italiana) combateu contra o exército italiano em 1848, 1866 e 1915, porque o Reino da Itália tentava anexar a região. Durante a Primeira Guerra Mundial, 60.000 tiroleses de língua italiana combateram no exército austríaco, dos quais cerca de 12.000 voluntariamente; desse total, cerca de 12.500 morreram em combate lutando no exército austríaco ou nos campos de concentração italianos. Após a guerra e com o fim do Império Austro-Húngaro, uma parte do Tirol de língua alemã (atual Província de Bolzano) também foi anexada pelo Reino da Itália e sofreu durante décadas a proibição do idioma alemão. No Brasil, poucos descendentes sabem que o fascismo também proibiu o uso do idioma alemão em vários vales “trentinos” onde o italiano era uma língua secundária. O fascismo não só tentou proibir os tiroleses de serem tiroleses; também propagou estereótipos sobre a italianidade que “ressoam” até hoje tanto na Europa como no Brasil.

Stemma-Tirol-1526
1526 – Brasões do Tirol e da Áustria. A união com o ducado austríaco é de 1363.

 

– Mas nós comemoramos no Brasil a imigração italiana e incluímos os trentinos.

Como queiram, mas não eram imigrantes italianos. Talvez haja desconhecimento? Talvez haja intenção? Talvez seja “conveniente” colocar todos os imigrantes num mesmo “balaio”. Mas por que ninguém inclui os suíços de língua italiana na Imigração Italiana? Talvez porque a região do Cantão Ticino na Suíça não foi anexada? Caso o fosse, como em um passe de mágica, seus imigrantes também se tornariam imigrantes italianos?

– É errado dizer que os trentinos são italianos?

Do ponto de vista linguístico e cultural, não. Vale lembrar que a Áustria de cem anos atrás era multiétnica e o idioma italiano era oficial, ensinado nas escolas e usado em todos os órgãos públicos das regiões com maioria de população falante do italiano. Os tiroleses da região de Trento e Rovereto sempre foram chamados de tirolesi italiani (“tiroleses italianos”) por causa do idioma.

– E por que não são imigrantes italianos?

Simplesmente porque não vieram da Itália, mas da Áustria! Eram austríacos de língua italiana e chegaram no Brasil com passaporte austríaco, declarando-se imigrantes austríacos. Vale lembrar que a Áustria tentou impedir a imigração de seus cidadãos por causa das notícias que lá chegavam sobre as péssimas condições em que muitos imigrantes viviam em algumas colônias. Muitos imigrantes “abdicavam” da cidadania austríaca, escrevendo sua renúncia no verso do passaporte, mas isso era simbólico, como se demostrou posteriormente.

Linguas imperio
Línguas oficiais no Império Austro-Húngaro. As regiões dos ducados austríacos (Österreich) Tirol e Vorarlberg, Caríntia (Kärnten), Boêmia (Böhmen), Mähren (Morávia), Galízia (Galizien) e Bucovina (Bukowina) formavam o Império Austríaco, unido ao Reino da Hungria desde 1867.

– Mas a Áustria não demonstra interesse pelo assunto!

Ah, não?                                                                                                           http://www.lateinamerika-studien.at/content/geschichtepolitik/brasilien/brasilien-21.html

Vejamos os dados (números) italianos sobre a imigração italiana.  http://it.wikipedia.org/wiki/Emigrazione_italiana#/media/File:%C3%89migration_italienne_par_r%C3%A9gions_1876-1915.jpg

Por que será que a região sul do Tirol (Trento e Bolzano) não se inclui nas estatísticas italianas da imigração? Simples. Porque a região de Trento não era Itália até 1918. Era Áustria. E desde 1363, ou seja, por mais de 500 anos ou, para ficar bem claro, a região de Trento foi austríaca por mais tempo que a idade do Brasil. É por isso que a imigração tirolesa (chamada “trentina”) de 1875 até 1918 não foi imigração italiana, mas imigração austríaca.

1875 – 2015: os 140 anos da imigração que não foi.

 

36 comentários em “Os 140 anos da imigração que não foi.”

    1. Caro Adami:
      Grazie del to coment. Sentete zo e beve en biceròt de quel bon co noialtri e nente a ciacerar su de sta storia massa bela e piena de cultura che l’èi la nossa storia tirolesa. De secur che te sei Adami (da ‘Adam’) ma me digo che zerte “novità” de sto Blog le sarà com magnar el pom del arbol de la sapienza. Ma vara che no sen bisi perché contan la storia s-ceta! 😉

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  1. O selo dos 140 anos da Imigração Italiana no Brasil usado na abertura do artigo foi disponibilizado pelo Consulado Italiano do Rio Grande do Sul para livre uso pela imprensa, órgãos públicos, associações, entidades, empresas e outros, com a finalidade de congregar todos aqueles que se sentem partícipes do evento. É criação da Quadrante Sul de Caxias do Sul. Obviamente aqueles que não se sentem representados no evento não precisam usá-lo e também podem criar tanto um evento que os represente bem como um selo específico.

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    1. O uso do selo neste Blog não é uma questão de “gosto” ou de “representação”. Sobre criação de selos e demais “burocracias”, também não é intento deste Blog. É apenas uma questão de argumentação acerca da coerência histórica (e, naturalmente, da falta dela) 😉

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      1. O problema, prezado Everton, é que da forma como foi titulado este artigo, adicionado do selo, fica a impressão de que seria obrigação do governo italiano (via embaixada e consulados) comemorar os 140 anos da imigração tirolesa e austríaca no Brasil.

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      2. O título do artigo não se refere ao governo italiano, mas à falta de coerência de alguns descendentes que – por desconhecimento, confusão ou intenção – desconsideram aspectos óbvios da história da imigração “trentina”. O governo italiano é coerente em comemorar os 140 anos da imigração italiana e faz muito bem.
        No entanto, a imigração “trentina” de 1875 (até 1918) nao é migração italiana (embora em língua italiana), mas autêntica imigração austríaca. Acreditamos que o texto seja bem claro sobre isso e, como afirmado na primeira postagem deste Blog, nosso compromisso é com a Verdade Histórica acerca da imigração tirolesa e de seus aspectos culturais. Deixaremos as “obrigações” a quem se sinta “obrigado” a aceitar que gato que nasceu dentro do forno seja considerado biscoito.

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      3. Sr. Pedro Carraro:
        Seu último comentário foi removido porque considerado ofensivo. Não é objetivo deste Blog criar “polêmicas úteis ao status quo” e, enquanto criadores do Blog, não daremos espaço a comentários como o seu. Advertimos em nossa primeira postagem que “não nos responsabilizamos por crises de identidade” causadas pelos assuntos propostos por este blog (embora não podemos deixar de notar os primeiros indícios). Se não gosta do programa, sugerimos que mude de canal. 😉

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  2. Muito obrigado pelas informações! Pelo jeito, a “conquista” de guerra parece que permanece martelando os tiroleses quando vemos que a imigração encontra dificuldades para se auto afirmar como austriaca. Importante saber dessa particularidade “trentina”. Como vamos resgatar o passado dos antepassados se o passado ficar ultrapassado?

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  3. E por que Nova Trento em SC não foi chamada de Nova Tyrol? Como assim a partir de 1970 são trentinos? Não eram trentinos antes?

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    1. Caro “tirolês”,

      eu sou de Nova Trento e posso lhe dizer que, aqui na minha cidade, o bairro onde os tiroleses chegaram por primeiro e fizeram suas primeiras casas até hoje se chama “Tirol”. Se você conhece Nova Trento, pode visitar esse bairro: o acesso é pela Rua Tirol, que fica no distrito de Claraíba.

      Aos poucos, outros bairros foram fundados por aqui com nomes da terra natal: Besenello, Valsugana, Vigolo… e em certa altura resolveu-se dar o nome de “Nova Trento” à colônia (e depois, à cidade) que reunia todas essas pequenas comunidades.

      Desconheço o motivo exato pelo qual nossos ancestrais escolheram dar o nome da capital do Tirol Italiano à cidade que então nascia; acredito que desejavam construir, no Brasil, uma cidade que fosse tão grandiosa quanto a Trento que havia ficado na Europa. Porém, para saber com exatidão, só mesmo voltando no tempo e perguntando a eles, uma vez que não existe registro da escolha desse nome.

      Na cidade de Piraquara, no Paraná, porém, existe um pequeno bairro fundado por “trentinos” que se chama “Colônia Santa Maria do Novo Tyrol”.

      Quanto aos imigrantes (e seus descendentes) serem “trentinos somente a partir de 1970”, acredito que o Prof. Dr. Altmayer quis se referir ao fato de que esse adjetivo – trentinos – raramente era utilizado até o início da década de 1970. Em situações na qual se desejava separar os imigrantes do Tirol dos demais imigrantes de língua italiana, o adjetivo utilizado pelos descendentes (e em livros, estudos, etc.) era, via de regra, “tiroleses” ou “tiroleses italianos”. Existem inúmeros depoimentos e livros históricos que corroboram isso, e você poderá ter contato com muito desse material ao acompanhar este blog.

      A partir da década de 1970, com o reestabelecimento dos contatos entre os descendentes dos imigrantes e a atual Província de Trento, o adjetivo “trentino” ganhou cada vez mais força para se referir aos descendentes de tiroleses, até porque, em várias ocasiões, pessoas vindas da Província insistiram com os descendentes que chamar-se “tirolês” era errado, que o correto era “trentino”. O próprio Prof. Altmayer teve experiências desse tipo.

      Abraços,
      Misael Dalbosco

      P.S.: peço que você insira um e-mail válido ao comentar no blog, sob pena de ter sua participação vetada. Obrigado.

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  4. Boa noite compatriotas Trentinos e Tiroleses. Sou Hilário Piffer, filho de Sylvio Piffer e neto de Andrea Piffer, tenho um documento de batismo de meu pai que se destaca como filho de Autríaco.nasceu em 1890 já no tirol italiano, e falavam os dois idiomas Austro/Italiano.Que me lembro o dialeto usado em minha casa nem eu entendia pelo emaranhado da linguas e sotaque.Abraços a tuti quanti brasilianos.

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    1. Prezado Sr. Piffer:

      ficamos gratos com seu importante comentário. Sendo nascido na região de língua italiana do Tirol em 1890, seu bisavô foi, naturalmente, um imigrante austríaco.

      O termo “Tirol Italiano” (it. Tirolo Italiano, al. Welschtirol) identifica “a região do Tirol que fala italiano” e foi usado oficialmente para designar o território de língua italiana da província austríaca do Tirol, ou seja, a região de Trento (local de nascimento de seu bisavô Andrea Piffer).

      O sobrenome é muito tradicional do Vale do Rio Ádige (al. Etschtal), derivado do antigo alto alemão ‘Pifer’ (“indivíduo que toca o pífaro, a flauta”). No atual alemão, temos Pfeifer (derivado do verbo “pfeiffen”), que significa “assoprar”.

      O conhecimento do idioma alemão era muito comum entre os tiroleses italianos (principalmente entre os indivíduos homens), pois a região sempre foi bastante influenciada pelo mundo germânico. Até o século XVI, praticamente todos os documentos na região de Trento eram escritos ou em latim, ou em alemão. Além disso, no Tirol havia um sistema diferenciado para o serviço militar obrigatório e, no exército, o uso do idioma alemão era bastante valorizado. Há canções populares tirolesas cantadas em dialeto trentino que apresentam tal realidade:

      “El caporal del Gègheri,
      canederli, canederli!
      El caporal dei Gègheri,
      canederli, oilà!

      Und was woll’n Sie essen?
      Canederli, canederli!
      Und was woll’n Sie essen?
      Canederli, oilà!”

      — —

      “A la matina, de bonora
      Ei grida “Auf”, ei grida “Auf”
      e no l’è ora!”

      “Noi siam i cacciatori,
      del Primo Regiment’
      Wir sind die Kaiserjäger
      der ersten Regiment”

      — —

      ”Auf che l’èi Morgen” (“Levanta que já é manhã”) – antiga expressão do exército austríaco em Trento.

      ————–

      No ambiente escolar (haja vista que os austríacos eram todos alfabetizados), o idioma utilizado nas escolas da região de Trento era o italiano gramatical (uma das línguas oficiais do Império Austríaco), seguido do alemão.

      Novamente, agradecemos sua importante contribuição para o Blog “Tiroleses no Brasil”.

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      1. Me sinto um verdadeiro imigrante Austríaco, na época de 1980 fui informado que meu pai por ter sido um imigrante Austríaco e trabalhado na Itália tinha direito a uma verba como bônus por ter sido Austríaco e se tornado trentino.Mas já tinha prescrito antes.Abraços a todos.e a ti Everton Altmayer.Hilário Piffer
        PS: Muito obrigado pelo comentário e muito grato pela lição de história internacional.

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  5. Prezado Prof. Dr. Everton Altmayer e Eng. Misael Dalbosco!

    Parabéns pela iniciativa e criação do projeto “Tiroleses no Brasil” em comemoração aos 140 anos de imigração tirolesa no Brasil.

    Adorei o tema abordado, muito esclarecedor e sobretudo baseado em fatos verídicos que são pouco divulgados mas que tem um grande peso no contexto geral da história destes imigrantes.

    Recebam meus cumprimentos com votos de muito sucesso na continuidade deste importante projeto.

    Anna Lindner von Pichler
    Cônsul Honorária da Áustria para Santa Catarina

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  6. Parabéns Everton e Misael!!!

    Com certeza essa página se tornará um centro de consulta e referência para nossa cultura austríaca (seja de língua italiana ou alemã).

    O assunto tratado acima foi apresentado de forma bem esclarecedora. Até para os que não querem entender!

    Forte abraço amigos.
    Carlos Eduardo Rohrer Felder

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    1. Caro Fernando Groff
      Grazie. Sarà semper el ”dover” de sto pöro Blog no assar che sta storia la venga persa (nel desmentegarse o nel volerghe). Documenti per contarla s-cèta ghe nè da uf.


      Caro Fernando Groff
      Obrigado. Será sempre o ”dever” deste humilde Blog não deixar que essa história se perca (por esquecimento ou intenção). Há muitos documentos para contá-la com clareza.

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  7. Prezado Everton: o meu último comentário foi um elogio ao teu trabalho. Até o Misael curtiu. Não entendo porque foi considerado ofensivo. Ficaria melhor deixá-lo publicado e respondê-lo. Mas, tudo bem, “me ne vado”, não havia entendido que apenas mensagens laudatórias eram bem vindas.

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    1. Sr. Carraro,

      pode ter a certeza que o contraponto neste blog sempre será bem-vindo. Porém, esperamos que esse contraponto venha na forma de argumentos embasados, que tragam documentos, evidências, e engrandeçam a discussão. Não estamos interessados em polêmicas inúteis sobre detalhes minúsculos, como possíveis “impressões erradas” que o título e a foto possam causar. Até porque o público-alvo deste blog são pessoas que se disponham a ler por inteiro nossos textos, que é bastante claro neste caso.

      Fique à vontade para trazer fatos e documentos que engrandeçam as discussões; se sua intenção é somente polemizar, no entanto, fica desde já claro que nos reservamos o direito de moderar os comentários.

      Atenciosamente,
      Misael Dalbosco.

      P.S.: eu curti seu comentário por acidente; às vezes acontece. Também o considerei ofensivo e aprovei a exclusão. Este blog está sendo escrito a quatro mãos.

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    2. Senhor Pedro Carraro, aviso novamente: fique à vontade para trazer fatos e documentos que engrandeçam as discussões, mas se sua intenção é somente polemizar nos reservamos o direito de moderar os comentários. Seu último comentário foi novamente excluído: esta discussão está encerrada.

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      1. ****TRECHO RETIRADO PELA MODERAÇÃO****

        Sobre fatos e documentos, vocês poderiam comentar sobre a perda automática de eventuais direitos de cidadania que todo o tirolês sofria quando imigrava.

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      2. Com certeza. O assunto é complexo e merece ser tratado num post à parte, mas vou tecer algumas considerações a respeito.

        Pouco antes do início da grande emigração, a Áustria recebeu com grande alarme as notícias sobre a situação dos seus cidadãos que se encontravam em terras brasileiras. Já em 1874 uma circular alertava todas as autoridades tirolesas para a triste situação em que se encontravam os cidadãos austríacos, a sua “miséria financeira e completa falta do necessário para se manter e vestir”, observadas com “absoluta passividade” pelo governo brasileiro. Tendo isso em vista, as autoridades austríacas decidiram opor-se com todos os meios à emigração de seus cidadãos para o Brasil. Uma das medidas tomadas foi justamente obrigar que o emigrante, para poder obter seu passaporte (e assim emigrar), assinasse um documento renunciando à cidadania austríaca.

        Devido às dificuldades impostas e talvez como uma “tentativa de autodefesa dos emigrantes que não desejavam renunciar à cidadania para não cortar o último laço com a Pátria-Mãe e para ter a possibilidade de se dirigir aos consulados europeus na América na qualidade de ‘cidadãos austríacos'”, muitos dos emigrantes não chegaram a renunciar à cidadania e emigraram sem documentos. Por exemplo, em certa altura, um comunicado da Representação da cidade de Sacco afirma que “de 6653 tiroleses italianos emigrados, há 3584 […] que abandonaram o país natal com renúncia da cidadania austríaca”. Portanto uma parcela expressiva havia emigrado sem renunciar a ela.

        FONTE: livro “Vincere o Morire”, de Renzo Maria Grosseli.

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  8. Excelente blog, excelentes argumentos muito bem embasados em fatos e explicados com maestria! Sou da Colônia Tirolesa de Piracicaba, trineto de tiroleses, falante do dialeto trentino. Atualmente vivo em Trento, estudando alemão e espanhol. É muito interessante ver que ainda hoje o alemão é forte nas escolas primárias e secundárias aqui da Província, e agora ainda mais com o plano do trilinguismo implantado pelo atual governo.
    Que o blog dê muitos frutos!!

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  9. Prezados Srs. Sou muito grato pelos esclarecimentos disponibilizados nesse blog sobre a imigração Austro/Italiana(se podemos chamar assim). Sou bisneto de um desses valentes e corajosos viajantes que aqui chegaram em uma época de extrema dificuldade. Será sempre um prazer enorme, saber ainda mais sobre esse assunto.
    Cordialmente:
    Luiz Carlos Caser
    São Paulo.

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    1. Prezado Sr. Caser,

      Agradecemos pela mensagem. A “imigração austríaca em língua italiana” (para nos referirmos especificamente aos tiroleses italianos, ou seja, “tiroleses de língua italiana”) contribuiu – e contribui – consideravelmente para a sociedade brasileira. Será intento deste Blog apresentar fatos históricos sobre a imigração tirolesa (que de 1875 a 1918 foi autêntica imigração austríaca), bem como esclarecer os leitores acerca de ”confusões” (nem todas fruto do desconhecimento) sobre tal realidade. Sua contribuição é muito válida e agradecemos.

      A propósito, o sobrenome Caser (do alemão tirolês ‘Kaser’, com sentido de “queijeiro”, “homem que faz queijo” – alemão gramatical Käser) é comum na região tirolesa de Primiero (al. Primör), especificamente de Caoria. Seus antepassados eram desse vale?

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  10. Prezados Senhores, endosso os comentários apreciativos sobre esta iniciativa. Sou terceira geração de trentinos e italianos vindos em 1875/1876 para Porto Franco, hoje Botuverá em SC. Confesso que esta descendência austríaca ignorei por não ter peso na formação de nossa família. Apesar de minha mãe dizer que seus avós eram austríacos, tudo em nossa convivência foi italiano, até o documento que recebemos de Fornace/TN onde foi registrada a vinda dos emigrantes daquele período está escrito em italiano, o dialeto de minha mãe é mais similar ao italiano oficial do que do meu pai que é Lombardo (com muita influencia francesa). Agradeço pela iniciativa pois são informações que enriquecem nossa história. Abraços a todos.

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    1. Prezada Sra. Pavesi:

      Gratos por sua contribuição. Como vemos nos documentos deste “post”, a língua italiana é também uma língua histórica do Tirol e, consequentemente, da Áustria.

      Sendo o Tirol uma região trilíngue – onde se fala o alemão, o italiano e o ladino dolomítico -, naturalmente os documentos escritos atualmente em Fornace são somente em italiano, mas no período imperial austríaco costumavam ser também bilíngues, em italiano e alemão, e muitas igrejas ainda utilizavam o latim nos registros de batismo.

      A língua italiana era conhecida e falada por muitos até mesmo em Viena. O “pai” da legislação austríaca (ainda vigente na atual República da Áustria) foi o tirolês de língua italiana Antonio Carlo MARTINI (1726 – 1800), originário de Val di Non: http://www.welschtirol.eu/wp-content/uploads/2012/02/martini.jpg

      A cidade de Botuverá registra em seu site oficial o uso da palavra “tirolês” para se referir ao dialeto dos imigrantes. Assim como o uso de “trentino” é relativamente recente no Brasil (sobretudo a partir da década de 1970, após os festejos da imigração), o uso de “tirolês” é atestado em outras localidades brasileiras. No site oficial da prefeitura de Botuverá, vemos o uso de Tirolês para se referir ao dialeto trentino, assim como é atestada a presença de dialetos lombardos (mantovano e bergamasco): http://www.botuvera.sc.gov.br/sociedade/cultura/

      Sua mãe confirma o que apresentamos neste ‘post’: os tiroleses eram todos imigrantes austríacos (e o fato de sua mãe se recordar é, no meu entender, uma comprovação de que eram conscientes de sua pátria de origem). Já os lombardos, eram imigrantes italianos. A propósito, a presença de ü (eu) e ö (oe) nos falares lombardos, que lembram o idioma francês, não é propriamente influência “francesa”, mas uma característica comum ao francês e, portanto, antiquíssima. O lombardo faz parte do grupo linguístico galo-itálico (originário nos celtas romanizados e que recebeu influências dos germânicos Longobardos), e influenciou, inclusive, os falares tiroleses.

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      1. Caro Sr. Altmayer, apreciei muito sua aula sobre minha descendência e a imigração de Botuverá, Porto Franco como preferimos nos referir a ela. Temos ainda muitos tios e primos que moram lá, adoro visita-los e reviver um pouco da nossa história. Grazie mille!!!

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  11. Everton e Misael: Achei muito interessante a ideia do Blog. Só de ver essas discussões – de ver os descendentes buscando saber mais sobre a história e contribuindo com suas histórias pessoais – já valeu.
    Meus antepassados da Vallarsa que fizeram parte da imigração de 1876 – logo, austríacos do tirol italiano, eram bilíngues. Inúmeros foram os testemunhos que recolhi ao longo desses últimos três anos. Inclusive que o alemão (detto cimbro) era falado pelos meus antepassados (mas só entre os imigrantes). Poucos foram os filhos de imigrantes que aprenderam. Possivelmente em razão da adaptação às novas terras, da necessidade de comer antes de qualquer outra coisa, da impraticabilidade da língua já bastante enfraquecida inclusive na Europa, frente ao novo universo de imigração maciçamente veneto-lombarda, fez com que adotassem definitivamente variantes itálicas para o uso cotidiano, por já dominarem a língua e por ser mais prático. Sendo eles depois da guerra, ‘tirolesi senza bandiera’ – em um universo de pessoas oriundas do contexto da “Itália unificada” – eles se tornaram italianos, de fato, ma perchè presi con i fucili. (Conforme testemunho gravado na propria Vallarsa) – da qual os atuais descendentes são orgulhosos de suas origens austríacas e contam, alguns chorando, das experiências relatadas pelos nonnos em Mittendorf.
    Mas cabe relatar aqui uma outra situação: Minha bisnonna Taufer, de Caoria – Val di Primiero, teve seu registro de casamento aqui no Brasil constando como origem: a Alemanha. Tenho a genealogia da família desde 1600 e de fato, eram austríacos de Primiero. Percebo que a dificuldade de muitas pessoas está em perceber o antigo mundo – antes da revolução industrial – sem a recente ideia de “Estado-Nação” – onde não haviam barreiras linguísticas determinadas pela geografia. E essa falácia é sustentada e aumentada por instituições de fomento a cultura ”italiana”. (“Ma come mai austriaci se parlavano italiano?”). Isso aí dá tela azul nas instituições italianas.
    Percebo que para essa nossa situação, nosso conceito de pátria, de Heimatland, supera qualquer possibilidade de entendimento das atuais associações que se esforçam não no sentido de construir a história e de reforçar os laços com as origens, com a genealogia, com a história e acima de tudo, com a busca pela verdade.
    “Tempo e pàia se maùra anka i nèspoli…”

    Grande abraço e parabéns pelo trabalho,

    Gustavo Baratter.

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    1. Caro Gustavo:

      Obrigado pelo comentário. Será nosso compromisso divulgar fatos relacionados à imigração “verdadeira” (aproveitando seu comentário sobre a busca da verdade). Como deve saber, não é tarefa fácil desconstruir mitos, haja vista a ampla difusão de “falácias” (aproveitando seu comentário).

      Sobre a nona de Caoria se dizer “alemã”, isso era possível pelo seguinte motivo: o Tirol fazia parte da Confederação Germânica (Assembleia de Frankfurt) e possuía representantes do Tirol (inclusive da cidade de Trento).
      Interessante observar que, em 1866 (quando a Áustria perdeu o Reino Lombardo-Vêneto para a Itália), o Tirol passou a ser considerado como “herança direta” da nação alemã e os círculos administrativos de Trento e Rovereto reivindicaram na Confederação Germânica seus direitos de “alemães não-germânicos”, ou seja, “alemães que não falavam o idioma alemão”. Tratou-se de uma iniciativa que procurava evitar que o Tirol Italiano se tornasse um campo de batalha, tendo em vista que, em 1866, as tropas de Garibaldi tentaram anexar o Tirol ao Reino Italiano, mas foram expulsas pelos voluntários tiroleses e pelo exército austríaco na batalha de Bezzeca (que obrigou Garibaldi a fugir do Tirol). Vemos, portanto, que o uso do termo “alemão” até então que não indicava propriamente o falante de alemão.

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  12. Oi Everton e Misael !
    Parabéns pelo Blog, bela iniciativa.
    Gostaria de saber se vocês tem a dupla cidadania (brasileira-austríaca) e como faço para obtê-la?
    Grato
    Alex

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    1. Prezado Alex,

      Infelizmente não a temos, porque atualmente não é possível aos descendentes de ex-austríacos (Altösterreicher), ou seja, de cidadãos do antigo Império Austríaco, de obter a cidadania da atual República da Áustria. Não é possível nem mesmo aos idosos que tenham nascido sob o Império e ainda hoje vivem no Tirol Meridional (ou na Boêmia, na Galícia, etc.). A Áustria só reconhece o direito à cidadania de descendentes de cidadãos da República da Áustria, formada após o final da Primeira Guerra (como é o caso dos habitantes de Treze Tílias, aqui em Santa Catarina). Isso se deve a uma série de motivos, inclusive tratados de guerra.

      Existe desde 2008, porém, uma iniciativa no Parlamento Austríaco que visa conceder a cidadania austríaca aos descendentes de ex-austríacos residentes no Tirol Meridional – províncias de Trento e Bolzano, mais a região de Cortina d’Ampezzo (Haydn) em Belluno. O grande fomentador dessa iniciativa é o deputado austríaco Werner Neubauer e o partido Südtiroler Freiheit, da Província de Bolzano. Em 2011 foi realizada uma grande coleta de assinaturas em todo o Tirol, como maneira de demonstrar apoio à iniciativa. Porém, até hoje a lei não foi aprovada no Parlamento austríaco, inclusive por pressões da Itália, que é contra.

      De qualquer forma, não existe garantia de que, se a iniciativa render frutos, o direito à cidadania vá se estender também aos descendentes residentes fora da área das duas províncias (por exemplo, no Brasil). Eu, pessoalmente, gostaria que acontecesse e seria o primeiro da fila.

      Mais detalhes sobre o assunto:
      http://austriaciditalia.wordpress.com/2012/03/22/passo-avanti-per-la-doppia-cittadinanza-nessun-problema-legale-ma-i-trentini-avranno-questa-opportunita/
      http://www.welschtirol.eu/doppia-cittadinanza-doppelte-staatburgerschaft/

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  13. Caros Everton e Misael,

    Como já publicado lá no grupo BGT – Brava Gente Trentina, mais uma vez, parabéns pela iniciativa do Blog, que é rico em detalhes do ponto de vista histórico – que os nossos tiroleses do Brasil desconhecem ou foram conduzidos a esquecerem.

    Eu gostaria de organizar um evento nacional sobre a “Identidade trentina/tirolesa no Brasil” e convidá-los a palestrarem sobre esses aspectos históricos. Tal evento ainda não tem hora nem lugar, mas a ideia é válida para divulgarmos um trentino/tirol desconhecido por aqui!

    Como sabemos, o adjetivo “trentini” já está enraizado em associações brasileiras criadas a mando de entidades italianas a partir da época da comemoração do centenário da imigração trentina. A partir de então, inventou-se, criou-se o costume nos descendentes daqueles imigrantes de se identificarem como “trentino” ao invés de “tirolês”. Tanto é verdade que se fala em “dialeto trentino” e não “dialeto tirolês itálico” ou algo do gênero. Além disso, o que é pior – ao meu ver – não houve qualquer resistência desses descendentes em perpetuarem o nome “tirolês” ou “tirol italiano” para passarem a utilizar a palavra “trentini”, porque simplesmente aceitaram passivamente o referido termo de modo vertical, dada a imposição da criação de associações culturais trentinas – e não tirolesas.

    O fundo histórico existe, claro, da afirmação trentina pertencente ao reino da Itália e transformação da história do que antes era chamado de “tirol austríaco”. Trata-se de imposição de esquecimento da palavra “tirol” feito de propósito pelo reino italiano fascista para que houvesse o sentimento de pertencimento ao reino da Itália e não ao austríaco, como modo de abafar o sentimento nacionalista austríaco e, de fato, inventar o sentimento nacionalista italiano, de pertencimento ao “trentino italiano”.

    Pois bem, toda discussão, portanto, se encontra na dialética de cunho meramente histórico entre “tirol austríaco” e “trentino italiano”, que faz referência, respectivamente, ao mesmo território que, após a assinatura do Tratado de San German passou à pertencer ao reino da Itália com o desmantelamento do Império Austro-Húngaro.

    Infelizmente não temos notícias de entidades culturais que tenham sido criadas com o fito de preservar a cultura dos tiroleses de língua italiana no período entre guerras ou logo após a segunda guerra. Aliás, conforme é notório, o próprio governo desejou nacionalizar os imigrantes que aqui já estavam e criaram a nação brasileira. Caso associações nesse período tivessem sido criadas certamente poderia servir de apoio histórico para noticiar o verdadeiro sentimento daqueles imigrantes, pois aos descendentes foi contada uma história a modo de formar uma consciência, uma verdade, que não condiz com o sentimento de pertencimento dos imigrantes.

    Fato é que, os imigrantes provenientes daquele território eram, juridicamente falando, súditos austro-húngaros e, etnicamente falando, de língua e etnia italiana. A princípio, e acredito, que os imigrantes que aqui aportaram se sentiam de fato austro-húngaros e não italianos, apesar da língua, mas optaram ao emigrarem por deixarem daquela condição e apostar no novo mundo. Justamente por terem sido conduzidos a colônias com outros imigrantes italianos (provenientes do reino da Itália) é que a segunda geração desses imigrantes já deixaram de se interessar pelo assunto “imigração”, pois nasceram brasileiros e para muitos imigrantes o tema “travessia do oceano” era assunto proibido. Claro que isso não foi impeditivo de preservação da história e perpetuação da cultura, mas certamente muita coisa se perdeu por conta desse aspecto, infelizmente.

    Mas e hoje, o que temos de real e inventado?

    Temos a “história real” e a “história criada” por pessoas que gostariam de afirmar o pertencimento dos descendentes além-mar ao “trentino italiano” para fortificar a ideia de pertencimento desse território à Itália e, assim, também além-mar, encontrar adeptos que se caracterizassem como “italianos” ou invés de “tiroleses de língua italiana”, mas principalmente para justificar a autonomia do território em relação à Itália. Mas em qual devemos acreditar e perpetuar?

    Mas e hoje, o que podemos fazer em relação a essa imposição vertical para nos caracterizarmos como “trentinos” e não “tiroleses de língua italiana”?

    O blog de vocês é um exemplo do que podemos fazer e, repito, vocês estão de parabéns! Do porto de vista histórico o blog e o pensamento dos seus idealizadores é perfeito porque objetiva recuperar o que de fato ocorreu a partir da imigração tirolesa ao Brasil. Isso eu tentei ainda em 2005 quando conheci o Everton e o convidei para escrever um texto falando a respeito desses aspectos históricos para informar via o portal ww.trentini.com.br na seção “histórico geral” – que está on line no portal até hoje.

    Mas e hoje, essa dialética tem importância além do ponto de vista histórico?

    Ao meu ver, não. Temos sim que contar a história a partir de fatos históricos que estão ao nosso alcance. Mas hoje o território de proveniência dos nossos antepassados tiroleses é autônomo e pertence, do ponto de vista do Direito Internacional, à República italiana e não à República austríaca. Além disso podemos também mudar o nome das nossas associações culturais, de “Circolo trentino” para “Circolo tiroles”, ao invés de nos referirmos ao “trentino” nos referimos ao “tirol italiano”, mas efetivamente acredito que tal atitude não teria outro efeito senão apenas do ponto de vista histórico, pois o “tirol italiano” efetivamente não existe – apenas existe do ponto de vista histórico, de um período que já se foi, de um tempo que não volta mais.

    Mas e hoje, essa dialética histórica se transpõe ao Direito que nós temos enquanto descendentes de tiroleses?

    Não mesmo. Hoje todos os descendentes daqueles tiroleses de etnia italiana, uma vez comprovado o pertencimento ao grupo étnico linguístico italiano pode – de 2000 até 2005 – requerer o reconhecimento da nacionalidade italiana a partir da lei 379/2000 e a sua prorrogação, até 2010. Aliás, vocês mesmos Everton e Misael fizeram os respectivos requerimentos e estão aguardando o reconhecimento da condição de “nacionais italianos”, e não de “nacionais austríacos”. Ou seja, do ponto de vista jurídico, assim que a nacionalidade italiana de vocês for reconhecida, vocês serão tiroleses com nacionalidade italiana!!! E isso está ocorrendo para cerca de 25 mil pessoas descendentes daqueles imigrantes tiroleses, que hoje se chamam trentinos e estão em processo de reconhecimento da nacionalidade ITALIANA!

    Mas e hoje, toda essa discussão tem validade?

    Claro que tem, e vocês estão de parabéns e contem comigo para perpetuar essa história real, do ponto de vista histórico. Mas TRENTO e BOLZANO, hoje, são províncias autônomas pertencentes à República Italiana, e dificilmente isso nós iremos mudar.

    Eu me considero descendente de tiroleses com etnia italiana que hoje são chamados de trentinos. Não falo o alemão, tampouco meu trisavô o falava, mas acredito sim que é de magna importância perpetuarmos aquilo que é correto e fazermos a devida contraposição ao que de fato e de direito existe hoje, para que os nossos descendentes olhem o que estamos escrevendo hoje e saibam que nós demos o devido valor àquilo que foi tentado ser esquecido e nós, conseguimos recuperar.

    Mais uma vez, parabéns! BRAVI

    Att.:

    Elton Diego STOLF
    Consultor da Provincia Autonoma di Trento (Brasile Nord)
    e-mail: stolf@trentini.com.br

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    1. Senhor Consultor Brasile Nord Elton Stolf,

      Esperamos que nos permita chamá-lo assim, de modo a destacar seu título honorífico.

      Tais questionamentos já nos foram feitos anteriormente em outras ocasiões, e, “curiosamente”, repetem-se aqui.
      Suas perguntas nos recordam uma passagem bíblica (Mateus, 22: 15-22).

      Não haveria porque respondermos aqui a todos os questionamentos de tão longa mensagem em apenas um comentário. Muitos de seus questionamentos são temas de futuros “posts”, mas reiteramos aqui os objetivos deste Blog livre:

      – Demonstrar compromisso com a Verdade Histórica no que se refere à Imigração Tirolesa no Brasil;
      – Desconstruir uma visão distorcida da imigração tirolesa, que foi (e ainda é) propagada entre muitos descendentes, principalmente entre os trentinos (= tiroleses de língua italiana);
      – Demonstrar que a falta de seriedade de alguns personagens (de cá e de lá do Oceano Atlântico) também contribui para a propagação de estereótipos.

      No entanto, observações a alguns de seus comentários são necessárias:

      1 – “detalhes do ponto de vista histórico – que os nossos tiroleses do Brasil desconhecem ou foram conduzidos a esquecerem”.
      Todos os descendentes desconhecem? Não acreditamos nesta premissa e nem que a identidade e a história sejam “detalhes”. Bastaria ler alguns comentários acima para se ter uma ideia de que sua observação infeliz não condiz com a realidade.

      2 – “como sabemos, o adjetivo “trentini” já está enraizado em associações brasileiras criadas a mando de entidades italianas a partir da época da comemoração do centenário da imigração trentina”.
      O adjetivo “tirolês” não nega o adjetivo “trentino”. O contrário sim (mas nem sempre), de modo que a forma como seu comentário utiliza os termos condiz com a segunda realidade.

      2a – “a mando de entidades italianas”
      Procuraremos comprovar sua constatação. Mas a influência cultural da Ong italiana ‘Trentini nel Mondo’ não seria possível sem colaboradores locais. Veja-se que a entidade contou com sua direta colaboração através do site mantido pelo Circolo Trentino di Curitiba (www.trentini.com.br – que funcionou como página da ‘Federação dos Círculos Trentinos no Brasil’, entidade fundada pela Ong), assim como nas listas de emails (Grupo Brava Gente Trentina) e demais sites e grupos de sua autoria (Sobrenomes Italianos, Trentini in Brasile) que incluem na imigração italiana os imigrantes austríacos saídos do Tirol, Gorízia, Friúl, Trieste.

      Tal ‘modus operandi’ se faz notar, inclusive, na política do Escritório de Emigração (Ufficio Emigrazione) da Província Autônoma de Trento, que o Senhor Consultor Brasile Nord Elton Stolf representa oficialmente.

      Vale lembrar que ambos, a Ong Trentini nel Mondo e o Escritório de Imigração (Ufficio Emigrazione), são notícia nos jornais de Trento e Bolzano desde 2012, após o Tribunal de Contas Italiano ter iniciado processos questionando a prestação de contas do uso de dinheiro público em suas atuações na América do Sul.
      Como se leem nas reportagens, o valor dos danos ao erário da Província Autônoma de Trento (referente às atividades dos últimos anos levadas a cabo pela Ong Trentini nel Mondo em conjunto com o Ufficio Emigrazione) podem ultrapassaram a soma de 5 milhões de euros.
      Segundo o Tribunal de Contas da Itália, o valor em questão se referia, inclusive, a muitos dos projetos financiados via Ong e Ufficio Emigrazione no Brasil e demais países da América Latina.
      Apesar de tal escândalo ter sido anunciado em diversos jornais europeus (de 2012 a 2015), não há uma menção sequer sobre o assunto em nenhum dos canais “trentinos” do Brasil:

      Nomes dos envolvidos:
      http://www.ladige.it/territori/trento/2014/05/15/trentini-mondo-personaggi-bufera

      A quantia a ser restituída aos cofres públicos da Província Autônoma de Trento:
      http://www.ladige.it/news/cronaca/2015/02/17/trentini-mondo-domani-otto-davanti-giudice

      Vídeo de um atual candidato à prefeitura de Trento, o empresário Paolo Primon:

      3 – “cerca de 25 mil pessoas descendentes daqueles imigrantes tiroleses, que hoje se chamam trentinos e estão em processo de reconhecimento da nacionalidade ITALIANA!”
      Sim, por conta de uma Lei Especial (379/2000) que reconhece a cidadania italiana a descendentes de imigrantes austríacos, cujas terras foram anexadas pela Itália oficialmente após o Tratado de Saint Germain (escrita correta).
      Em nosso entender, o documento da cidadania italiana, ou seja, a nacionalidade, é importante (haja vista que a terra natal dos imigrantes austríacos não se encontra na pátria original), mas não é suficientemente capaz de modificar a História, cancelar a Cultura e comprar a Identidade dos imigrantes e dos descendentes que se sentem ligados a tais peculiaridades.
      A propósito, Everton Altmayer não fez nenhum pedido de cidadania italiana. Mas isso pouco importa. A cidadania italiana é tratada com muito respeito por nós, bem como a identidade e a descendência italianas.
      Mas não será a cidadania italiana um motivo para propagarmos estereótipos “úteis” e fazer alguém crer que gato que nasceu dentro do forno se torne biscoito. 😉

      4 – “o território de proveniência dos nossos antepassados tiroleses é autônomo e pertence, do ponto de vista do Direito Internacional, à República italiana e não à República austríaca. Além disso podemos também mudar o nome das nossas associações culturais, de “Circolo trentino” para “Circolo tiroles”, ao invés de nos referirmos ao “trentino” nos referimos ao “tirol italiano”, mas efetivamente acredito que tal atitude não teria outro efeito senão apenas do ponto de vista histórico, pois o “tirol italiano” efetivamente não existe – apenas existe do ponto de vista histórico”
      As propostas de nomenclatura acima deixamos para o próprio autor delas. No entanto, a “lógica” das considerações são (como se verá nos posts) equivocadas, seja do ponto de vista histórico, como cultural e identitário. Naturalmente, o Senhor Consultor Brasile Nord Elton Stolf tem todo o direito de pensar e se sentir como quiser, mas o aparente “conformismo” do Senhor Consultor Brasile Nord Elton Stolf (que pretende mistificar o objetivo principal deste Blog) nos faz reiterar que ser descendente de tiroleses não faz ninguém se tornar “propriedade” de Ongs, representações, entidades espirituais, xamãs etc.

      5 – Deixamos o uso de “nós” de seu comentário somente para si. Não faremos deste Blog um espaço para instrumentalizações e não é nosso objetivo transformar o Blog em uma “franquia”, até porque não há necessidade de ninguém ser descendente de tiroleses para tratar do assunto. 🙂
      Do mesmo modo, este Blog não será um espaço para “polêmicas úteis” ao que classificamos status quo.

      Esperamos ter sido claros mas, mesmo assim, agradecemos seu comentário.

      Everton Altmayer & Misael Dalbosco

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