Prof. Dr. Everton Altmayer
Um dos principais objetivos do Blog Tiroleses no Brasil – talvez o mais relevante de todos – é o compromisso com fatos históricos no que se refere à imigração de tiroleses e aos aspectos culturais ligados a ela. Neste texto introdutório, pretendemos passar uma noção básica acerca da imigração austríaca no Brasil.
Por verdade histórica entendemos aquela feita a partir de fatos históricos documentados que se complementam com os depoimentos de quem vivenciou os fatos. Nesse sentido, o intuito principal deste texto é tratar da imigração austríaca e de seus aspectos culturais, valorizando a identidade dos imigrantes e, na medida do possível, confrontando a realidade documentada com as (re)interpretações desses fatos muitas vezes reelaboradas pelos descendentes.
Como temos demonstrado em nossos textos, a imigração austríaca no Brasil, entre 1824 e 1938, ultrapassa o número de 65.000 imigrantes – um tema ainda pouco discutido se comparado a outras imigrações – como a alemã ou a italiana.
A contribuição austríaca é muito relevante para a história do Brasil e para a sociedade brasileira, mas, não poucas vezes, ela é absolutamente ignorada, desconsiderada ou – pior ainda – renegada e “substituída”, passando a ser considerada parte das imigrações alemã, italiana ou polonesa.
A chegada da arquiduquesa austríaca, Dona Leopoldina de Habsburgo, que se tornaria a primeira imperatriz do Brasil, foi extremamente importante para o processo migratório de europeus para o nosso país.
Os imigrantes chegados até 1918 eram de diversas regiões do Império Austríaco, unido ao Reino da Hungria, eram de diferentes etnias, falavam diversas línguas e professavam diferentes religiões. Mas eram de nacionalidade e identidade austríacas, porque “ser austríaco” não significava somente “ser de etnia alemã” ou “falar alemão”. A Áustria era um mosaico rico de povos e culturas. E a nacionalidade austríaca dos imigrantes se comprova não apenas com dados presentes em seus passaportes, mas na cultura que eles manifestavam em fatos de seu cotidiano, registrados muitas vezes por jornais da época ou ainda presentes na memória dos descendentes.
Por isso, a necessidade de um compromisso com a verdade histórica, para que sejam feitas pesquisas honestas sobre a imigração austríaca para o Brasil. Os imigrantes do Império Austríaco falavam os idiomas alemão, italiano, esloveno, checo, eslovaco, polonês, ucraniano e croata e vieram das seguintes regiões:
- Tirol Meridional (Südtirol, Tirolo Meridionale)
- Litoral austríaco (Küstenland, Avstrijska Primorska, Avstrijsko primorje, Litorale) com Gorízia (Gorizia, Görz), Ístria (Istria, Istrien, Istra) e os círculos de Trieste (Triest, Trst) e Údine (Udin, Videm, Weiden)
- Friul (Friûl, Friuli, Friaul, Furlanija)
- Carníola (Kranjska,Krain, Carniola)
- Boêmia (Böhmen,Čechy)
- Morávia (Morava, Mähren)
- Silésia austríaca (Schlesien,Ślůnsk, Śląsk, Slezsko)
- Bucovina (Buchenland, Bukowina, Буковина)
- Galícia (Galicja,Galizien, Галичина)
- Dalmácia (Dalmacija, Dalmazia, Dalmatien)
Temos visto que algumas “pesquisas” simplesmente omitem essa realidade histórica, social e cultural, enquadrando os imigrantes da Áustria em outros contextos migratórios, como alemães, italianos ou poloneses. Vemos, por exemplo, que imigrantes tiroleses da região trentina (austríacos de língua italiana) aparecem como “imigrantes italianos”, austríacos de língua alemã da Boêmia são indicados como “imigrantes alemães” e austríacos de língua polonesa da Galícia se tornam “imigrantes poloneses”. Dos pontos de vista étnico e linguístico, não seria um equívoco total, haja vista a complexidade social do Império Austríaco, mas omitir a nacionalidade austríaca dos imigrantes é, no mínimo, um descuido grosseiro.
Tal constatação não é de hoje. Em um documento datado de primeiro de março de 1904, o cônsul austríaco em São Paulo se lamentava da seguinte maneira:
“Aproveito esta ocasião para chamar a atenção de V. Excia. sobre um aspecto que, em meu modo de ver, é uma falta capaz de dar ao processo de imigração uma aparência muito contraditória à realidade. Refiro-me aos casos, por mim observado tantas vezes, nos quais súditos austríacos conhecedores da língua alemã ou italiana aparecem nas estatísticas como súditos alemães [do Império Alemão] e italianos [do Reino da Itália]”.
Atualmente, a Áustria é uma democracia representativa parlamentar composta por nove estados federais: Viena (Wien – com a capital austríaca) Alta Áustria (Oberösterreich) Baixa Áustria (Niederösterreich) Burgenland Caríntia (Kärnten) Estíria (Steiermark) Salzburgo (Salzburg) Tirol (corresponde à porção norte da região histórica do Tirol) e Vorarlberg.
“Mas quais são os motivos pelos quais os emigrantes do Império Austro-Húngaro geralmente não são mencionados nas publicações sobre as migrações, embora esse império contasse entre as nações européias nas quais a emigração, entre 1880 e 1918, se transformou num ‘movimento de massas’? O que significava ‘Áustria’, antes de 1918, em termos de território e cultura? O Império Austro-Húngaro era multiétnico e multicultural. Essa heterogeneidade não significava uma “vizinhança” entre culturas nacionais; as fronteiras étnicas não correspondiam exatamente às linguísticas e às territoriais. Elas estavam entrelaçadas entre si, interpenetravam-se umas com as outras – mormente nos centros urbanos”.
(Prutsch, 2011: 5)
Austríacos de língua italiana:
A população italiana no Império Austríaco era significativa e habitava parte da área alpina e do Litoral Austríaco, onde convivia com demais austríacos de língua alemã e eslava (eslovenos e croatas).
Vários são os documentos e depoimentos que demonstram a identidade austríaca dos imigrantes de língua italiana do Tirol, ou da região de Gorícia e Trieste.
Sem dúvida, os austríacos de língua italiana constituem o maior grupo de imigrantes austríacos estabelecidos no Brasil, cujo número de descendentes é bastante expressivo, principalmente nas regiões Sudeste e Sul. Desde o Espírito Santo até o Rio Grande do Sul, vivem milhares de descendentes de imigrantes austríacos de língua italiana, em sua maioria tiroleses da região trentina (Tirol Italiano).
Um documento significativo sobre a identidade dos imigrantes austríacos de língua italiana é um poema escrito no ano de 1903 para homenagear a visita do cônsul austríaco às comunidades de Rio dos Cedros e Tiroleses (atualmente em Timbó), no estado de Santa Catarina:
Eccelenza, Console austriaco,Carlo Bertoni!
Noi siam nati in strani lidi Dagli Austriaci genitor E sapiam che noi siam figli D’una Patria e d’un Signor, Ce lo dicon babbo e mamma Che il destin qui li riduce, Nostra Patria è giù lontana E’ lontana, è nel Tirol La son nati gli avi nostri Là sepolti negli avel, Nel Tirolo son rimasti Ancor vivi genitor Quando entriamo nella scuola Per la grazia del Signor Figli attenti alla parola Dice il Padre dell’amor. Di Europa in continente Nel suo seno l’Austria stà Amplo è il regno e colta gente Ricco il suolo d’ammenità. L’Austria abbonda di miniero Di granaglie, frutta e fior, L’Austria Impero, è un bel paese Dove pace regna onor. Città grande in piano colle S’erge Viena d’Austria Impero Viena antica è capitale Dell’antico e vasto regno. E noi tutti ti preghiamo Ò Eccelenza qui venuto, Ci annunzierai un pio saluto A Sua Maestà, l’Imperator. |
Excelência, Cônsul austríaco,Carlo Bertoni!
Nascemos em terras estrangeiras De genitores Austríacos E sabemos que somos filhos De uma Pátria e de um Senhor. Isso nos dizem papai e mamãe Que o destino para cá os trouxe, Nossa Pátria está longe, está longe, é no Tirol. Lá nasceram nossos antepassados Lá estão sepultados na terra, No Tirol permaneceram Ainda vivos os pais. Quando entramos na escola Pela graça do Senhor Filhos atentos à palavra Diz-nos o Pai do amor. No continente da Europa No seu centro a Áustria está Amplo o reino e culta a gente Rico o solo de variedades. A Áustria abunda de minério De grãos, frutos e flores, A Áustria Império é um belo país Onde reina eterna paz. Cidade grande em plaina colina Ergue-se Viena da Áustria Império Viena antiga é capital Do antigo e vasto reino. E nós todos te pedimos, É Excelência aqui vindo Anunciarás uma carinhosa saudação A Sua Majestade, o Imperador. |
Dos austríacos de língua italiana provenientes do Tirol, uma parte seguiu para as fazendas de café da então província de São Paulo, ao passo que outros seguiram para as áreas coloniais do Sul. Em Santa Catarina, os tiroleses se instalaram na Colônia Blumenau, no Vale do Itajaí, onde fundaram, em 1875, Rodeio e Rio dos Cedros (à qual se juntava a comunidade de Tiroleses, hoje em Timbó) e na Colônia Príncipe Dom Pedro (região de Brusque), onde fundaram, em 1875, Nova Trento e a pequena comunidade de Lageado, em Guabiruba. Em 1909, fundava-se na comunidade de Rodeio (então município de Blumenau) a Liga Austro-Brasileira.
No Paraná, a única comunidade fundada por austríacos de língua italiana é Santa Maria do Novo Tirol, em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba. Iniciada em 1878, a colônia também recebeu imigrantes italianos e prosperou até o início do século XX, quando o êxodo rural diminuiu drasticamente o número de moradores.
Na Serra Gaúcha, os imigrantes austríacos se instalaram principalmente a partir de 1875 nas colônias Conde D’Eu, Dona Isabel e Caxias, região das atuais cidades de Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Garibaldi e Flores da Cunha (outrora chamada Nova Trento).
Fundada entre 1892 e 1893, a Colônia Tirolesa de Piracicaba, no estado de São Paulo, é formada pelos bairros Santana e Santa Olímpia. Ambas as comunidades sempre demonstraram forte apego à identidade dos imigrantes austríacos que se estabeleceram no interior paulista.
Em 1977, a comunidade de Santana organizou uma grande festa para recordar o centenário da chegada da família Vitti ao Brasil, na qual foi convidado o cônsul da Áustria em São Paulo, bem como autoridades locais. Também a comunidade de Santa Olímpia recordou o centenário da fundação do bairro com as bandeiras do Brasil e da Áustria.
Em 1893, iniciava-se em Piracicaba a construção da igreja dos frades capuchinhos (franciscanos). Dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, o templo religioso é conhecido como “Igreja dos Frades” e sua história está intimamente ligada à imigração austríaca no Brasil. O projeto ficou a encargo do arquiteto S. Madein, natural do Tirol, e a festa de inauguração contou, inclusive, com a presença do cônsul da Áustria. Um dos momentos memoráveis da festa de inauguração foi a execução do hino imperial austríaco pelos imigrantes tiroleses que transformaram o evento em uma típica “festa tirolesa”, com cantos de sua terra de origem.
Uma publicação relevante da comunidade austríaca no Brasil (principalmente dos austríacos de língua italiana) era o jornal Il Trentino, editado e publicado em Porto Alegre/RS a partir de 1915. O jornal publicava textos em italiano, português e alemão e foi publicado até 1917, quando seu nome é mudado para Áustria Nova, mas não chegou a durar por muitos anos.
Austríacos de língua alemã:
Assim como entre os imigrantes tiroleses e triestinos, vários documentos e depoimentos demonstram a identidade austríaca dos imigrantes de língua alemã saídos das regiões que compõem os atuais nove estados da República Austríaca, assim como do Tirol Meridional, da Boêmia (atual República Checa), de Trieste, da região da Carníola (atual Eslovênia) e da Bucovina (atualmente entre a Romênia e a Ucrânia).
Embora a presença de imigrantes austríacos de língua alemã seja registrada desde 1824, há dois contingentes importantes de imigrantes da Áustria:
- Em 1858, um grupo com 277 imigrantes do Tirol e Vorarlberg se estabelece na antiga Santo Antônio de Paraibuna, atual Juiz de Fora, em Minas Gerais. Os austríacos se estabaleceram na então “Colônia Alemã”, juntamente com demais colonos de língua alemã de diversas regiões da atual Alemanha e religiosos holandeses;
- Em 1859, outro grupo de tiroleses de língua alemã funda a pequena Colônia Tirol (Dorf Tirol), no território da antiga colônia imperial de Santa Leopoldina (fundada por alemães e suíços em 1857), atualmente município de Santa Leopoldina, no Espírito Santo. Naquela colônia havia imigrantes alemães, austríacos, suíços, luxemburgueses e holandeses. Todavia, na comunidade tirolesa, a memória da imigração austríaca ainda é viva entre os descendentes de tiroleses.
O jesuíta Teodoro Amstad registrou a comunidade de Novo Tirol no vale do Rio Caí, atualmente no município gaúcho de Nova Petrópolis. Fundada muito provavelmente entre 1873-74 por tiroleses de língua alemã (ou bilíngues) vindos do Tirol Meridional, a comunidade se inseriu na realidade da maioria dos imigrantes alemães. O acesso até Linha Temerária é feito através da Rua Tirol.
A identidade austríaca dos imigrantes boêmios se faz notar no Rio Grande do Sul nos nomes da Colônia Nova Áustria (Neu Österreich), fundada em 1873 na região de Paverama, ou na Linha Áustria, no município de Santa Cruz do Sul.
No Brasil, os imigrantes da Boêmia mantinham algumas sociedades recreativas como, por exemplo, a Sociedade Austro-Húngara de Jaguari, no Rio Grande do Sul, fundada no final do século XIX por imigrantes da Boêmia.
Em 1893, cerca de 50 famílias de imigrantes austríacos de língua alemã se instalaram na Linha 6 Leste, em Ijuí, no Rio Grande do Sul. Boa parte desses imigrantes era originária da Boêmia.
Imigrantes da Boêmia também se estabeleceram na cidade gaúcha de Venâncio Aires (Linha Cecília, Linha Isabel e Alto Sampaio), bem como nas antigas localidades coloniais de Conde D’Eu e Campos dos Bugres, atualmente nos municípios de Bento Gonçalves e Caxias do Sul. O governo imperial brasileiro havia tentado povoar a Serra Gaúcha inicialmente com boêmios e alemães do Volga (Rússia), introduzindo ali cerca de cinquenta famílias da Boêmia saídas de Venâncio Alves; os alemães não aceitaram o local e se transferiram para a Argentina, ao passo que muitas famílias de boêmios se dispersaram por conta das difíceis condições (Umann, 1997; Amstad, 1999; Frosi, 2000). Na cidade de Farroupilha existe a Linha Boêmia, pertencente ao distrito de Nova Milano e na divisa com o município de Feliz, de colonização alemã.
Demais imigrantes boêmios também se instalaram na cidade catarinense de São Bento do Sul e ali fundaram, entre 1895 e 1898, a Sociedade Auxiliadora Austro-Húngara. O principal motivo da criação de uma sociedade austríaca naquela cidade era o clima de disputa com os colonos alemães, uma vez que estes haviam fundado, em 1895, uma sociedade de atiradores com membros das guerras de 1864-1866, na qual os prussianos combateram contra os austríacos.
Na região austríaca da Bucovina, a população era composta principalmente por romenos, ucranianos e alemães. Estes últimos, eram, na realidade, descendentes de colonos saídos da Boêmia no início do século XIX para povoarem os confins do império. Bucovinos de língua alemã imigraram para o Brasil entre 1877 e 1878 e se estabeleceram principalmente nas cidades de Rio Negro e Lapa (Colônias Johannesdorf/São João e Marienthal), no Paraná, Mafra (Colônia Imbuial) e Itaiópolis (Colônia Lucena), em Santa Catarina. Um pequeno grupo de bucovinos saiu de Rio Negro e se estabeleceu na região catarinense de Canoinhas.
No Brasil, os imigrantes bucovinos que se estabeleceram em Rio Negro receberam assistência do cônsul austríaco Dr. Okeki. Em 1898, por ocasião do cinquentenário do reinado do imperador Francisco José de Habsburgo, cada imigrante que servira o exército austríaco na Bucovina recebeu do consulado uma medalha de ouro e um retrato do imperador. Quando a construção da igreja matriz de Rio Negro foi concluída, Francisco José enviou uma soma em dinheiro para os colonos bucovinos.
A identidade austríaca está muito presente no cotidiano da cidade catarinense de Treze Tílias, a mais nova colônia de imigrantes austríacos no Brasil, fundada em 1933 por Andreas Thaler, ex-ministro da agricultura da Áustria.
Thaler planejou uma imigração prevendo que, após a Primeira Guerra, com o fim do Império Austríaco e as disputas étnicas e políticas causadas pelas mudanças nas fronteiras nacionais, muito provavelmente um outro conflito ainda mais sangrento devastaria a Europa. Thaler circulou pela América do Sul antes de escolher o lugar onde estabeleceria a nova colônia, procurando se informar sobre a qualidade de água e do solo, bem como sobre as taxas de mortalidade infantil das áreas que visitou. O local escolhido foi o meio oeste catarinense, para onde liderou uma imigração organizada e composta por pessoas com as mais diversas profissões. A imigração foi feita em parceria com os governos austríaco e brasileiro, de modo que a estrutura da colônia era bastante avançada já nos primeiros anos, o que não impediu diversas dificuldades, sobretudo após a morte precoce de seu líder, ocorrida acidentalmente durante uma enchente.
Inicialmente, Thaler pensou em batizar a colônia austríaca com o nome Neu Tirol (“Novo Tirol”), mas soube que já havia outras comunidades no Brasil chamadas “Tirol” (como Dorf Tirol no Espírito Santo, Linha Tirol no Rio Grande do Sul e Santa Maria do Novo Tirol no Paraná). Chegando ao Brasil, seu filho Andrä lhe presenteou com um livro comprado no Rio de Janeiro, uma obra épica do escritor alemão Friedrich Wilhelm Weber chamada Die Dreizehnlinden (“As treze tílias”). Após a leitura feita durante o trajeto até Santa Catarina, Andreas Thaler se inspirou no conteúdo da obra e decidiu chamar a nova colônia austríaca com o nome Dreizehnlinden. Durante a Segunda Guerra, com a repressão do governo brasileiro, a comunidade foi rebatizada com o nome Papuan (de um rio local) e, posteriormente, com a tradução do nome original da colônia: Treze Tílias.
Em 1921, um pequeno grupo de imigrantes da região de Vorarlberg se estabeleceu na cidade paulista de Itararé, onde fundaram a Colônia Áustria, na área conhecida como Bairro da Seda.
Após a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), com o fim do Império Austro-Húngaro, um número considerável de austríacos emigrou para o Brasil, estabelecendo-se (às vezes juntamente com imigrantes alemães) nas regiões Sudeste e Sul. Também suábios do Danúbio (Donauschwaben), que habitavam a região do Banato, pertencente ao Reino da Hungria, formaram uma próspera comunidade em Entre Rios, no Paraná.
Imigrantes austríacos de língua polonesa e ucraniana
Boa parte dos imigrantes de língua polonesa no Paraná era de nacionalidade austríaca. Havia, também, austríacos de língua ucraniana que, assim como os poloneses, entraram no Brasil com documentação do Império Austríaco.
Entre 1895 e 1897, entraram no Brasil aproximadamente 20 mil austríacos de língua ucraniana, todos originários da região austríaca da Galícia. Em meados de 1890, a população na região era de 4 milhões e 300 mil habitantes. Uma população multiétnica, que falava vários idiomas e professava diferentes religiões: 65% eram ucranianos, 15% eram poloneses, 12% judeus asquenazitas (falantes do alemão ídiche) e 8% alemães. Havia católicos romanos, católicos de rito bizantino, católicos ortodoxos, protestantes (luteranos) e judeus. Estima-se que, até 1918, cerca de 45 mil imigrantes ucranianos de nacionalidade austríaca e russa entraram no Brasil.
O Brasil também recebeu milhares de imigrantes prussianos de língua polonesa, saídos da Silésia alemã, bem como ucranianos de nacionalidade russa. O Reino da Polônia (já aliado do Império Austríaco contra a invasão otomana no século XVI) findou em meados de 1700 e seu território foi dividido entre as potências monárquicas da época: o Império Austríaco, o Reino da Prússia e o Império Russo. Durante a Primeira Guerra Mundial, muitos foram os soldados poloneses do exército austríaco, inclusive o pai do Papa João Paulo II, que batizou seu filho com o nome de Karol em homenagem ao último imperador austríaco, o beato Carlos de Habsburgo (em alemão, Karl von Habsburg; em italiano, Carlo d’Asburgo; em polonês, Karol Habsburg).
Austríacos de língua eslovena e imigrantes croatas
A região da Carníola esteve unida à Áustria desde a Idade Média até o final da Primeira Guerra Mundial. A região croata esteve unida ao domínio dos Habsburgo de 1526 a 1918, mas seu território fazia parte do Reino da Hungria.
Imigrantes austríacos, portanto!
Acreditamos que seja necessário – e uma questão de justiça histórica – conhecer melhor a realidade da imigração austríaca no Brasil, haja vista que muitas pesquisas simplesmente omitem fatos essenciais como a nacionalidade (ou a identidade nacional) de imigrantes vindos de certas regiões do antigo Império Austríaco, classificando-os simplesmente com base no idioma que falavam. Tal “reducionismo” empobrece as pesquisas, causa confusões (por vezes inúteis) e não dá o devido valor à contribuição social e cultural da imigração austríaca no Brasil.
A realidade do Império Austro-Húngaro era complexa porque não se tratava de um território composto por uma só etnia. Não se falava um idioma apenas, pois cada povo tinha direito ao uso de seu idioma e à profissão de sua crença.
Com muito trabalho, os imigrantes austríacos transferiram para nosso país seu saber, sua cultura musical, arquitetônica e artística, bem como sua culinária e sua mentalidade. Eles merecem o mesmo reconhecimento e respeito dado aos demais imigrantes que fizeram do Brasil sua nova pátria.
Bibliografia consultada:
Celestino, Ayrton Gonçalves. Os bucovinos do Brasil e a história de Rio Negro. Curitiba: Torre de papel, 2002.
Dreier, Werner. Colônia Áustria, Bairro da Seda – Vorarlberger Auswanderer nach Brasilien. Bregenz: VAG, 1996.
Habel, Jussara Maria. Mapeamento de comunidades boêmias no Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RIHGRGS (n. 150), 2016.
Prutsch, Ursula. A imigração de austríacos para o Brasil. (libreto informativo) Brasília, Embaixada da Áustria para o Brasil, 2011.
Sites consultados:
http://migrepolones.blogspot.com.br
https://saobentonopassado.wordpress.com
http://ijuisuahistoriaesuagente.blogspot.com.br
Gente me ajuda entender! Minha família fala que nosso sobrenome Borbá é da Hungria, sabem de Francisco Borba?
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Muito bom o site! Minha avó materna nasceu em Terzo, Gurissa, (Gorizia) antigo Império Austro Ungaro, atualmente Região Friuli Venezia-Giulia- Itália. Chegou ainda criança ao Brasil com o Vapor Raggio em 30/12/1895, no Porto Santos. Residiu em Jaú no Estado SP, onde se casou com meu avó. Ela sempre dizia que era Austríaca, mesmo sendo conhecida no Brasil por Maria Italiana.
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Procuro informações sobre o nome strogueia, é assim que consta na certidão de meus tataravos, não sei a pronúncia constam como austríacos Constantino Strogeueia
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