Se nossos antepassados tiroleses eram alfabetizados, isso se deve principalmente à reforma escolar promovida em 1774 pela soberana da Áustria e rainha da Hungria, Maria Teresa de Habsburgo, que instituiu que todas as crianças de ambos os sexos entre seis e doze anos deveriam frequentar as escolas públicas.
Se pensarmos que, atualmente, milhões de pessoas nunca frequentaram a escola e que o número de analfabetos é imenso, é de se admirar que os imigrantes tiroleses dos séculos XIX e XX que chegaram ao Brasil fossem praticamente todos alfabetizados.
O motivo? A determinação de uma mulher que idealizou uma formação decente para a população de seu império: trata-se de Maria Teresa de Habsburgo (Maria Theresia von Habsburg; Maria Teresa d’Austria), nascida em 1717 e falecida em 1780, governante do Sacro Império Romano-Gêmanico, soberana da Áustria e rainha da Hungria.

Apesar de seu profundo conservadorismo religioso, a imperatriz promoveu diversas mudanças modernas. Auxiliada por nobres e ministros competentes, como o tirolês Carlo Martini, Maria Teresa criou um Conselho de Estado que lhe auxiliava e que implementou reformas nos assuntos do Estado: reorganizou o código civil, proibiu a pena de morte e a tortura, cobrou impostos de religiosos e nobres (reforma parcialmente bem sucedida), modernizou o sistema médico fundando novos hospitais e permitindo autópsias, reforçou e modernizou o exército (com salários e reorganização das tropas), reformulou o sistema agrimensor tornando-o muito preciso, reorganizou as finanças públicas, dobrando as receitas do Estado, o que lhe possibilitou a realização da principal reforma: a educação básica e pública para todas as crianças do Império, de acordo com o idioma de sua região de origem.
A reforma escolar austríaca colocou a escola no centro de um novo programa de reformas sociais e econômicas, com um objetivo de repensar o sistema educacional baseando-se em princípios morais e de civilidade. O intuito era o de promover nos indivíduos a noção do bem coletivo e a reeducação dos costumes.

A governante afirmava que a reforma escolar proporcionaria às novas gerações “uma mentalidade honesta, sensata e lúcida”. O decreto imperial instituiu que todas as crianças de ambos os sexos, entre seis e doze anos, deveriam frequentar as escolas públicas e que, caso não o fizessem, seus pais seriam responsabilizados e chamados pelas autoridades locais.

A organização escolar era composta por três modelos de escola: a Normalschule (Scuola Normale) instituída em cada província, a Hauptschule (Scuola Principale) para cada distrito provincial e a Trivialschule (Scuola Triviale) para cada vilarejo ou paróquia rural.
Maria Teresa faleceu cinco anos após a instituição do novo regulamento escolar, deixando 100.000 Gulden de seu patrimônio particular para serem distribuídos às escolas do Império.
Isso explica porque quase praticamente não havia analfabetos entre os imigrantes tiroleses que entraram no Brasil entre 1868 e 1938 . Mais de 98% dos imigrantes eram alfabetizados, muitos deles possuíam boa caligrafia e se correspondiam com seus familiares na Europa e em demais localidades brasileiras.

Não por acaso, nas colônias tirolesas fundadas no Brasil, juntamente com a preocupação de se construir uma igreja para promover a religiosidade e o convívio social, entre as prioridades estava também a construção de escolas para que as novas gerações fossem alfabetizadas.

A preocupação com a educação e com a alfabetização fazia parte do cotidiano da população tirolesa no Império Austríaco durante os anos da emigração para o Brasil. Quando comparada com a situação educacional no vizinho Reino da Itália, onde mais de 50% da população era analfabeta, a realidade tirolesa refletia as reformas iniciadas em 1774 durante o governo de Maria Teresa.
Em diversas cartas de imigrantes leem-se relatos de famílias preocupadas com a educação de seus filhos, além de cartas escritas por líderes comunitários às autoridades locais para auxílios na implementação de escolas. A precariedade de recursos dificultava a fundação de escolas nas áreas rurais e o governo brasileiro nem sempre atendeu às necessidades dos imigrantes. O governo imperial austríaco chegou a enviar material escolar para as comunidades de imigrantes no Brasil, com livros em alemão e italiano, de acordo com a língua falada pelos imigrantes.
Muitos religiosos missionários tiveram um papel importante na educação das novas gerações nascidas no Brasil, mantendo escolas e seminários onde milhares de descendentes de imigrantes tiroleses foram alfabetizados.


