
Uma história particularmente interessante – e triste – que foi descoberta durante as gravações do documentário Tiroleses na Floresta é a dos irmãos Silvio e Augusto Dadam, nascidos em Nova Trento, que pereceram durante os combates na Primeira Guerra Mundial lutando no Imperial-régio Exército da Áustria-Hungria. Trata-se do único caso conhecido de neotrentinos que tenham combatido na Primeira Guerra.
A triste história dos irmãos Dadam foi contada pela sra. Leonida Daros, de Nova Trento. Dona Nida contou ao cineasta Luís Walter, produtor do documentário, que quando pequena havia ouvido esta e muitas histórias da boca de seu tio, Augusto Dadam (irmão de sua mãe).
Contava o zio Augustin que seus avós – os bisavós de dona Nida – haviam se conhecido numa festa, em Innsbruck (a antiga capital do Tirol). Casaram e estabeleceram-se na cidade de Besenello, onde tiveram vários filhos. Anos depois, um dos seus filhos, Giuseppe Dadam, casou-se com Cecília Ondertoller e pouco depois resolveu emigrar com a mulher para o Brasil. Junto com o casal emigrante, veio um irmão menor de Giuseppe, chamado Giacinto Dadam – avô de dona Nida Daros.
Giuseppe e Giacinto Dadam eram pedreiros, como muitos outros imigrantes que chegaram a Nova Trento. A família Dadam estabeleceu-se próximo ao centro da cidade, na localidade de Besenello – que recebeu este nome porque ali havia um grande número de famílias provenientes daquela cidade do Tirol. Ainda hoje o bairro mantém esse nome.

Já no Brasil, Giuseppe e Cecília Dadam tiveram pelo menos dois filhos: Silvio (n. 25/05/1876) e Augusto (n. 05/01/1879). No entanto, segundo o relato de dona Nida, a matriarca da família, Cecília, não se adaptou à vida no Brasil; sendo assim, uma vez que Giuseppe havia conseguido reunir algumas economias com seu trabalho de pedreiro, toda a família emigrou de volta para o Tirol. Giacinto Dadam, permaneceu e casou-se em Nova Trento, dando origem a uma família numerosa; veio a morrer precocemente em um acidente numa obra em Florianópolis.
Silvio e Augusto Dadam, de volta ao Tirol, cresceram e se tornaram pedreiros, como o pai. Quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial, em 1914, os irmãos foram chamados a servir no Imperial-régio Exército da Áustria-Hungria, como outros 60 mil tiroleses italianos (“trentinos”). Provavelmente devido à profissão de pedreiros, foram designados para trabalhar nas ferrovias do Exército. Durante o trágico conflito, os irmãos Silvio e Augusto conheceram o mesmo triste destino de outros 11 mil tiroleses italianos que morreram durante os duros combates da Primeira Guerra. Silvio Dadam faleceu num hospital em Trento, em 02/11/1915, aos 39 anos. Deixou viúva a mulher Carlotta Comper, com quem havia casado pouco antes do início da Guerra, em 1913. O irmão Augusto faleceu em Viena, capital da Áustria, no ano seguinte, em 28/11/1916. Tinha somente 37 anos.

Conforme relata dona Nida Daros, após a Primeira Guerra, os membros da família Dadam em Nova Trento receberam um telegrama, provavelmente da associação Schwarz Kreuz*, comunicando a morte dos seus dois parentes. Seus nomes foram escritos no Tiroler Ehrenbuch – Albo d’Onore del Tirolo, que contém os nomes de todos os soldados tiroleses que pereceram na Primeira Guerra Mundial e que está exposto num museu em Innsbruck, na Áustria. As páginas do Livro contendo os dados dos irmãos Silvio e Augusto podem ser vistas abaixo.

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*A Österreischiche Schwarz Kreuz (“Cruz Negra Austríaca”) é uma associação que colabora com o Ministério da Defesa da Áustria com o escopo de manter viva a memória dos militares austríacos que tenham perecido nos conflitos mundiais.