Árvore de maio (Maibaum)

Maibaum

O dia 1 de maio é internacionalmente famoso pelo Dia do Trabalho. Todavia, uma antiquíssima tradição europeia que se preserva no Tirol também marca o primeiro dia do mês. Trata-se da montagem da Árvore de maio (al. Maibaum, it. Albero di maggio), cujas origens remontam à Antiguidade, quando as tribos celtas e germânicas celebravam a fertilidade e as colheitas.

arvore yggdrasil

A árvore foi, desde a Antiguidade, um símbolo ligado à ideia de vida, força e sabedoria em diversas culturas. Árvores como o carvalho, a tília, o elmo e o abete eram sagradas entre os germânicos. Na mitologia nórdica, uma árvore colossal chamada Ygddrasil era o eixo que coligava os nove mundos (reais e metafísicos): suas raízes se aprofundavam em Niflheim, um mundo sombrio e estéril, habitado por gigantes e monstros; o tronco, chamado Midgard era o mundo material dos homens e a copa da árvore, que tocava o sol e a lua, era Asgard, terra dos deuses em direção ao Valhala, local para onde iriam os bravos guerreiros nórdicos e, ali, passariam sua existência em infinitas guerras.

Muitas alegorias envolvendo árvores se originam na observação humana da natureza: da pequenina semente que se torna uma imponente árvore, dos galhos que, sem folhas no inverno, enchem-se de folhas e frutos na primavera. As árvores forneceram a madeira para as casas e para o fogo, a matéria prima para muitos artefatos. A tradição natalina da árvore enfeitada é uma adequação cristã de um símbolo mais antigo, uma vez que na imensidão branca nevada, o pinheiro permanece verde, assim como o Cristo que vence a morte.

Árvores centenárias foram consideradas sagradas por várias gerações de populações germânicas até que sua conversão ao Cristianismo fizesse com que os antigos valores fossem reinterpretados ou reprimidos.

germanicos arvoresOs antigos germânicos costumavam pendurar oferendas em árvores sagradas – geralmente velhos carvalhos (al. Eiche) – dedicadas aos deuses. O ritual conhecido como blót (de Blut, sangue) eram celebrações anuais com sacrifícios e oferendas na esperança de prever como seria a estação vindoura ou em momentos de crise. Sacrifícios de animais e até mesmo humanos marcavam os rituais e, por isso, o método mais praticado pelos primeiros missionários cristãos para demonstrar a supremacia da nova fé era o corte e queima das árvores sagradas. Um missionário capaz de cortar a árvore sem ser morto pelo deus germânico demonstrava, com os golpes de seu machado, a força de sua crença. Todavia, com os novos valores, muitos símbolos antigos permaneceram sob novas interpretações e é exatamente nessa antiga cultura  germânica que a Árvore de maio encontra suas mais remotas origens.

maibaum europa

Ao que tudo indica, a simbologia ligada à Árvore de maio faz referência à fertilidade. Na Europa, o mês de maio marca a entrada da primavera e o “renascer” do verde que substitui o branco da neve que se vai. Sem dúvida, a tradição chegou ao Tirol vinda do norte. Inicialmente, uma árvore cortada que, no decorrer do tempo, passou a ser um mastro enfeitado. A grinalda é geralmente enfeitada com fitas coloridas (ou cores da bandeira regional) e podem ser colocadas mais do que uma na árvore de maio, sendo menores à medida que são colocadas mais para cima. Na Alemanha, a colocação do mastro enfeitado com uma grande grinalda feita de folhas (antigo costume germânico) pode ocorrer no dia 30 de abril ou no dia 01 de maio. Em alguns lugares, era costume “roubar” a árvore da praça, que deveria ser depois encontrada e os que a resgatam, são geralmente recompensados.

A feitura do Maibaum nas terras alemãs é documentada desde meados de 1200 e o primeiro registro de que se tem notícia na Áustria é de 1466. No estado alemão da Baviera (al. Bayern), a árvore de maio adquiriu características próprias, com “galhos” enfeitados com símbolos regionais, brasões das cidades ou figuras humanas nos trajes típicos bávaros.

maibaum munique
Maibaum em Munique, Alemanha.

No Tirol, a tradição chegou através da Baviera e é mais difundida no Tirol alemão (sobretudo na parte setentrional), onde o mastro é colocado no dia 30 de abril ou no primeiro de maio, que costuma ser muito festivo, com exibições musicais. Há, ainda o Kirchtagsmichl, festividade do Tirol meridional onde é montada uma “árvore” nos moldes do Maibaum. No Tirol italiano (região de Trento e Rovereto), o costume é o Albero della Cuccagna (“árvore da cocanha“), montado na época de carnaval e provavelmente originário da Árvore de Pentecostes (al. Pfingstbaum).

arvore cocanha

A tradição da Árvore da Cocanha se estende pelo norte da Itália e, por sua vez, assume características próprias. É enfeitada com alimentos, pois a palavra cocanha faz referência a uma antiga lenda medieval de uma terra de fartura, onde quem menos trabalha melhor viveria e onde os alimentos são abundantes a ponto de virem ao encontro das pessoas para que sejam consumidos. Na terça-fera de carnaval é montada a Árvore da Cocanha e costuma-se escalar o mastro para pegar as linguiças e alimentos pendurados na grinalda também feita com folhas de pinheiro, podendo também ser enfeitada com fitas. A Árvore da Cocanha lembra a versão brasileira do pau de sebo das festas juninas, escalado para serem retirados brindes.

Maibaum 2016 Treze Tilias
Maibaum em Treze Tílias, SC.

No Brasil, algumas comunidades de origem alemã e tirolesa preservam – ou começam a resgatar – tal tradição. Os tiroleses fundadores de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, costumavam montar o Albero della Coccagna (em dialeto trentino Arbol de la cucagna) no período de carnaval, uma tradição que parece estar sendo retomada por alguns descendentes, assim como na cidade catarinense de Treze Tílias, onde a Banda dos Tiroleses montou neste ano de 2016 um Maibaum na praça central da cidade, comemorado com apresentações musicais.

4 comentários em “Árvore de maio (Maibaum)”

  1. Muito bom e parabéns pela iniciativa de divulgar estas tradições e valore culturais para os descendentes tiroleses no Brasil que certamente os desconhecem.

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